sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Quinto.

Siëlaurtha!

Depois de uma longa reedição, o capítulo está aqui!

- Resuminho do capítulo: Uma má notícia abala Dan quando ele sai do hospital. Um péssimo dia o esperava, mas quando ele chega em casa, o tão esperado último livro aparece.

Capítulo V ~

O dia amanhecera cinzento, sem nenhum vestígio do Sol, que se encontrava coberto pelas negras nuvens. Dan abriu os olhos lentamente, percebendo que ainda estava no hospital. Ele ainda não acreditava em tudo aquilo que havia acontecido no dia passado, bem no dia do aniversário dele.
Ele levantou-se, e sentou na cama. Agora ele analisava o quarto, e via que a cama perto da janela estava vazia, e arrumada. Olhava também para a lâmpada, que estava quebrada. Então, ele sentiu algo sob o travesseiro: Era o pergaminho que Aod havia retirado do nada. “Aquilo tudo foi verdade.”
Agora a curiosidade tomava conta do garoto. Ele pegou o pergaminho, e abriu-o. Sobre a folha amarelada, caracteres estranhos estavam escritos verticalmente. “Runas! JP amaria ver isso... Por que eu não levo para ele? Não seria uma má idéia...”, pensou. Ele enrolou o pergaminho, e foi em direção a porta. Dan ia sair, mas foi impedido pela enfermeira e sua cara amarrada.
– Já ia fugir, menino? – Perguntou ela.
O médico apareceu atrás dela.
– Daniel, eu preciso fazer um check-up em você. Em alguns instantes você vai estar liberado para ir embora com a sua mãe.
O doutor fez o de sempre – checou a temperatura de Dan, olhou os ferimentos. Minutos depois, a enfermeira juntou as coisas do garoto, e o levou até a recepção, onde a mãe dele esperava. Ela era uma mulher magra, de cabelos pretos e belos olhos cor-de-mel, que agora se encontravam cheios de lágrimas. – Eu fiquei muito preocupada, filho. – Ela agora tentava conter o choro. Dan foi até ela, e a abraçou fervorosamente.
– Senti sua falta, mãe.
O garoto olhou para a escada que levava ao andar onde estava. Pensava em JP; Se ele já teria voltado ou não, ou se ainda estava deitado na cama, machucado.
– É melhor irmos, Dan.
A mãe do garoto saiu com ele pela recepção, e eles entraram num pequeno carro preto.
– Você está melhor, filho? – Perguntou a mãe.
Dan colocou a mão na cabeça aonde havia batido, e não sentiu nada.
– Eu me sinto perfeitamente bem, mãe. E eu não tava mais agüentando aquele lugar.
A mãe riu e Dan fez uma careta.
– Sem contar sobre a enfermeira maluca que me seguia toda hora e não parava de me olhar estranhamente.
Dan pensava em contar para a mãe o quê havia acontecido na noite passada, mas ele foi repreendido por um pensamento repentino. “Ela não iria acreditar. Tenho certeza que ela diria que isso não passou de um pesadelo ou algo parecido... Mas, eu tenho certeza que foi real. Afinal – tenho uma prova.”, pensou ele.

Por um tempo, a viagem seguia calada, até que a mãe cortou o silêncio, falando sobre os 15 anos de Dan.
– Você não estava em casa, mas eu mesmo assim, comprei um bolo para você. – Disse ela. – Hoje não é mais seu aniversário, mas quando eu chegar do trabalho, vamos cantar parabéns, tudo bem?
Minutos depois, saindo do centro, eles chegaram num bairro afastado. Dan morava numa casa verde, simples. Antes que a mãe estacionasse o carro, o garoto desceu, e foi em direção a casa do lado. Ele batia no portão incessantemente; Mas quando percebeu que ninguém atenderia, começou a esmurrar-lo. As lágrimas rolavam, e se juntavam com a chuva.
Dan voltou correndo para casa; passou pela sala, onde a mãe tomava café, e subiu correndo as escadas, em direção ao quarto. Ele entrou, bateu a porta, e jogou-se na cama. Ele deitou-se no travesseiro e abraçou-o forte. Em meio às lágrimas, Dan teve, pela primeira vez em semanas, um sono sem pesadelos.
Algumas horas depois, o garoto acordou assustado, e rapidamente desceu em busca da mãe.
– Mãe? Mãe, você tá aí?
Ele olhou para o relógio, e percebeu que já eram três da tarde.
Sob a mesa, não havia pão, nem café; havia apenas uma caixa, meio mal embrulhada. Ele a pegou, a desembrulhou, e viu que era algo pesado. Pouco a pouco, ele viu que era o presente que JP havia prometido: O livro mais importante da sua coleção. Ele era um antigo tomo, com uma bela e rústica capa, talvez feita de casca de árvore, adornada com estranhas – e ao mesmo tempo – belas letras garrafais bem feitas em cor dourada.
Fechando o livro, encontravam-se sete selos, feitos de uma brilhante e resistente cera vermelha. Dan facilmente soltou seis, faltando apenas um, o que ficava no centro do livro, o único que resistiu a sua força. No meio deles, havia um pequeno envelope azul, com uma simples escrita dizendo “De JP para Dan”.
O garoto abriu a carta, e os garranchos de JP diziam:
É Dan! Fazendo 15 anos, é? Um ano ficando mais velho! E mais um ano que a nossa amizade permanece! Até parece que foi ontem que a gente se conheceu, né? Eu bem sei disso (afinal, sou um ano mais velho! Haha!). Ah, eu não tenho muito a dizer... Só espero que você tenha gostado do presente! Esse é um dos meus livros mais preciosos! Só tem um detalhe: Nunca consegui abrir esses selos. Como você sempre foi apaixonado por quebra-cabeças, espero que você o decifre!
Acho que é só isso, Dan! Não esquece de guardar um pedaço de bolo para mim, huh? Até mais!
Dan tinha felicidade e tristeza misturadas com as lágrimas. Ele lembrava do simples sorriso do amigo ao vê-lo. Ainda lembrava dos bons momentos que tivera com o garoto, todas as vezes que ele o fizera sorrir. O fato do amigo não ter conseguido abrir o livro assustava Dan; afinal, ele abrira seis deles sem menor esforço.
Então, o telefone tocou. Dan colocou o livro e a carta sobre a mesa, e correu até o telefone para atender. Era sua mãe.
– Dan, boa tarde. Espero que esteja bem. – Disse ela.
Ele assustou-se. Mil pensamentos bagunçaram a cabeça dele.
– Por que, mãe? – Hesitou.
– Desculpe dizer, mas... – Ela pausou, e suspirou.
“O quê terá acontecido dessa vez!?”, pensou o garoto.
– O quê, mãe? Você vai me deixar preocupado!
A voz da mãe do garoto agora tomava um triste tom choroso. Isso fazia Dan estremecer, e aumentava o nervosismo dele.
– É triste dizer, eu sei... – Disse ela. – Mas... O seu amigo... faleceu.
Dan irritou-se. – Ah mãe! Pára de brincadeira, vai!
– Com a morte não se brinca, Dan. – Ela pausou. – Ele vai ser enterrado daqui à uma hora.
Dan sentiu raiva e tristeza.
– Por que você não me avisou antes, mãe?!
– Eu vi que você não estava muito bem, filho... Ele morreu às três horas da manhã, e achei melhor não te falar quando saímos do hospital... Desculpe.
Dan agora se encontrava paralisado. “Três horas?! Foi exatamente a hora em que eu acordei daquele pesadelo!”, pensou Dan, boquiaberto.
– Eu estou indo para casa. – A mãe disse, tentando melhorar o tom. – Arrume-se, nos vamos até o cemitério.
O garoto caiu ajoelhado no chão. Ele colocou as mãos sobre a boca. Ele estava impressionado com tudo aquilo. Naquele momento, era inevitável não chorar agora. Dan se sentia culpado por tudo aquilo. “Ele morreu... E tudo por minha culpa... MINHA CULPA!”, pensou ele, irado. O garoto não tinha mais vontade de não levantar. Mas algo bem no fundo dele, lhe deu forças para que ele o fizesse. Ele subiu até o quarto, e trocou-se.
Minutos depois, um barulho chamou a atenção do garoto. Ele olhou pela janela, e era a mãe dele. Dan desceu, pegou a mochila em cima da mesa e saiu. Ele entrou no carro negro, e em alguns minutos eles chegaram ao cemitério. O lugar não era medonho. Era até bem sociável, pois parecia um grande parque arborizado. Perto duma capela, ficavam os velórios, onde os mortos eram velados por toda a noite, até a hora do enterro. JP se encontrava no de número 4, onde várias pessoas se amontoavam sob o garoto. Algumas choravam, outros se lamentavam sobre como ele era um bom menino. A mãe dele se encontrava sentada ao lado do esquife, com a maquiagem negra borrando o rosto, passando a mão sobre os cabelos escuros do filho.
JP jazia deitado num esquife marrom-escuro, trajando um belo terno negro, com detalhes e abotoaduras prateadas. Dan chegou perto do amigo, e a mãe dele o olhou com desprezo. Ele colocou a mão sobre as geladas do amigo, e olhava sua expressão misteriosa. Para Daniel, JP sempre estava sorrindo.
Minutos depois, um padre baixo e de cabelos ralos, veio dar a última benção ao garoto. Dan tentava rezar junto com ele, mas sua voz falhava, e não podia conter as lágrimas.
Daí-lhe, Senhor, o descanso eterno. Brilhe para ele a luz perpétua. Descanse em paz.
As últimas palavras da oração ecoavam na mente de Daniel. Ele sabia que aquele seria o último momento que veria o amigo.
O padre fez uma cruz sobre JP e o esquife foi fechado. Algumas pessoas vieram em direção a ele, para que fosse levantado. Dan e o pai de JP foram os primeiros a pegar em uma das alças, e levantá-lo. Outras quatro pessoas os seguiram depois, erguendo o esquife. Depois, as pessoas presentes se juntaram a eles, e formaram um cortejo fúnebre. As lágrimas de Daniel eram misturadas as gotas da chuva. O garoto tentava esconder a sua dor, mas ela saia junto com o choro, em forma de um baixo e triste resmungo.
Depois de uma breve caminhada, o grupo seguiu o caminho que levava até o bosque, onde o garoto seria enterrado. Até que se chegasse a cova, podia se ouvir um coro de gemidos e lamentações.
O corpo de JP foi colocado em um tipo de máquina, para que fosse descido o esquife. Enquanto descia, o peito de Daniel apertava. Não aguentando, ele caiu de joelhos, chorando sem parar. Minutos depois, JP estava enterrado.
Dan olhava para o lugar onde o amigo estava enterrado. Ele colocou as mãos sobre o rosto e o sentimento de culpa retornava. “Me desculpe, JP... Me desculpe...”, ele pensava
Algum tempo foi passando, as pessoas presentes davam os pêsames aos pais do garoto, e iam embora. Ao fim, apenas restavam os pais de JP, Dan e a mãe dele. O garoto levantou-se rapidamente, limpando as lágrimas.
No momento, com um simples e confortante gesto, a mãe de JP virou-se para Dan, e o abraçou.
– Ele gostava muito de você, Daniel. – Disse ela, séria. – Ele, simplesmente, te adorava.
O pai de JP agora vinha em sua direção.
– Você era o melhor amigo que ele já teve Garoto. – Disse o pai, abraçando Dan com um braço, e dando nele um leve tapa nas costas.
As maçãs do rosto de Dan ficaram vermelhas, de vergonha. Ele olhou para a lápide, que estava enfeitada com algumas flores. Nela, havia simples escritos dourados que mostravam a data de nascimento de JP, e o dia de sua morte.
Alguns minutos depois, Dan percebera que estava sozinho. Talvez aquele fosse seu último momento com JP, e ele queria se despedir do amigo.
– Obrigado, JP. Eu nunca poderei reclamar de você. Você foi e sempre será o meu melhor amigo. Agora eu preciso ir.
Antes de sair, Dan ajoelhou-se e tirou a mochila das costas. De dentro dela, ele tirou uma pequena caixa. Ele abriu-a, e retirou dela um prato, com um pequeno pedaço de bolo. As lágrimas caiam sobre o singelo presente, enquanto ele o colocava sobre a lápide. Depois, ele levantou-se, limpando os joelhos sujos de grama molhada.
– Descanse em paz, meu amigo...

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